Santa Júlia e a experiência de Deus

A vida de oração e a experiência da bondade de Deus na vida cotidiana fizeram de Júlia uma pessoa sensível e capaz de ouvir a voz de Deus no coração, desde criança. Foi na oração profunda que Júlia compreendeu a vontade de Deus a seu respeito. Ao olhar para a vida de Júlia, reconhecemos três experiências de Deus decisivas em sua vida e na vida da Congregação.

Em 1793, em Compiègne, depois de 11 anos de paralisia, Júlia teve a visão da futura Congregação. Quando estava em profunda oração ela entrou em êxtase. Viu o Calvário e, ao redor da cruz, notou numerosas jovens que vestiam um hábito religioso que lhe era desconhecido. Simultaneamente ouviu as palavras: “Estas são as filhas que te darei num Instituto assinalado com minha cruz”.

Júlia jamais esqueceu essa experiência. A cruz esteve presente em sua vida e no seu Instituto desde a origem: enfermidades, perseguições, exílio, calúnias e incompreensões. O sofrimento para Júlia tinha sentido redentor, participação na cruz de Cristo, continuação da obra salvífica de Jesus. Essa visão colocou os fundamentos do Instituto, pois este não era obra de Júlia nem resultado de um sonho pessoal. A obra era de Deus e tinha como selo a Cruz de Cristo.

A segunda experiência de Deus profunda que Júlia viveu foi no dia 02 de fevereiro de 1806, em Amiens. Júlia falava para as Irmãs sobre a Festa da Apresentação do Senhor. Repentinamente, apoderou-se dela uma grande alegria! Durante o cântico de Simeão, ao cantar a frase “Luz para iluminar as nações”, sua voz silenciou, seu olhar fixou-se no crucifixo e ela permaneceu imóvel por um tempo.

O êxtase aconteceu num tempo de grandes dificuldades e perseguições. De acordo com a tradição transmitida pelas primeiras Irmãs, Deus mostrou à Júlia, a expansão da Congregação até os países mais distantes. Envolvida pela “luz que ilumina as nações” vislumbrou novos horizontes e a universalidade da missão. Júlia entendeu que não havia fronteiras para proclamar a bondade de Deus.

A terceira experiência de Deus na vida de Júlia é registrada no dia 15 de novembro de 1812, em Amiens. Júlia havia sofrido muito com a situação de instabilidade da casa de Amiens, pois havia dúvidas sobre a continuidade da comunidade neste local onde nascera a Congregação, em 1804.

Ao chegar à casa de Amiens, Júlia assim descreve a sua experiência na Carta 228: “Eis as duas palavras com as quais o bom Deus me acompanhou: ‘Olha para mim e segue-me!’”. Júlia percebe nessas palavras uma orientação na sua busca da vontade de Deus e sente-se em paz para tomar as decisões necessárias.